Sunday, May 21, 2006

OS DIAS DO TEATRO MARIA MATOS


OS DIAS DO TEATRO MARIA MATOS

1. O Dia
Um dia, quer seja mundial ou nacional dedicado a qualquer coisa, seja a poesia, a Poesia, a Criança, a Árvore, o Pai ou a Mãe parece-me sempre uma má desculpa. No entanto, ou talvez por isso mesmo, no dia 27 de Março, celebrou-se o Dia Mundial do Teatro, dia portanto para lembrar o Teatro, os Teatros, Actores, Encenadores, Autores, Técnicos, enfim, todos aqueles que fazem o Teatro.
Por todo o país várias foram as actividades, estreias, debates e colóquios que nos fizeram lembrar de que temos uma forte tradição teatral e um fortíssimo presente e futuro. Desde o Teatro da Beiras, que estreou mais uma peça, até à Câmara Municipal de Matosinhos que levou os reclusos do estabelecimento prisional de Santa Cruz de Bispo ao teatro, foram várias as companhias, actores, encenadores e técnicos que lembraram ao público que há teatro em Portugal, sim, não basta dizer, como li em blogs, jornais e um pouco por toda a parte, que não se fez nada para celebrar o Dia Mundial do Teatro, porque apesar de ser segunda-feira e dia de descanso das companhias, há muito quem tenha feito ver que dia 27 de Março foi Dia Mundial do Teatro. No entanto convém o público lembrar-se de que o teatro é como o natal, quando o homem quer.

2. As Mensagens
Forte tradição do Dia Mundial do Teatro são as mensagens. Este ano a mensagem Internacional foi da autoria do dramaturgo mexicano Víctor Hugo Rascón-Banda e lembra que “O teatro tem inimigos visíveis, a ausência de educação artística na infância, que impede a sua descoberta e o seu usufruto; a pobreza que invade o mundo, afastando os espectadores, e a indiferença e o desprezo dos governos que deviam promovê-lo.
No teatro falavam os deuses e os homens, mas agora o homem fala para outros homens. Para isso o teatro tem de ser maior e melhor que a própria vida. O teatro é um acto de fé no valor de uma palavra sensata num mundo demente. É um acto de fé nos seres humanos que são responsáveis pelo seu destino.
É necessário viver o teatro para entender o que se passa, para transmitir a dor que está no ar, mas também para vislumbrar um raio de esperança no caos e pesadelo quotidianos”. Portugal, através da Sociedade Portuguesa de Autores, também teve a sua mensagem da autoria do encenador Carlos Avilez e que acabava dizendo “Aos mais novos, àqueles que por vezes terminam os seus cursos e depois ficam à espera de uma oportunidade, àqueles em quem eu acredito que serão o teatro do futuro, que serão os responsáveis por esta profissão maravilhosa, única. Garanto que vale a pena! O teatro não esquece aqueles que o amam e o servem sem se servirem dele. A vossa oportunidade chegará”. Carlos Avilez lembrou ainda na sua mensagem dois nomes maiores do Teatro Português que lamentavelmente não poderemos voltar a ver, Isabel de Castro e Canto e Castro.

3. O Maria Matos
O Teatro Maria Matos reabriu no Dia Mundial do Teatro as suas portas. Diogo Infante, o novo director artístico, deixou claro o caminho do teatro que quer fazer porque, como ele próprio disse, é preciso olhar para o passado para poder programar o futuro.
Foi com os olhos postos no futuro que se exibiu o documentário “Maria Matos, um Teatro com História” de Cláudia Varejão, um vídeo que evocou os grandes sucessos do Teatro Maria Matos, desde o ano da sua fundação até à actualidade. Para além da qualidade do documentário, parece-me importante frisar a colaboração da RTP não só neste, como em vários outros documentários que se fazem (e tentam fazer) sobre actores, autores, locais, enfim, momentos e personagens importantes do país e que só podem ser realizados recorrendo ao arquivo da RTP. Este é, sem dúvida, um ponto importante do serviço público, e este vídeo sobre o Maria Matos é um exemplo extraordinário, tendo em conta que é quase todo construído recorrendo ao arquivo da estação estatal. É importante que a RTP continue este seu trabalho tanto em produção própria como em colaborações com autores externos para que a história do país seja contada e recontada.
Entretanto, Diogo Infante chamou ao palco no novo Maria Matos um grupo de actores e actrizes que marcaram a sua presença em produções anteriores daquele teatro, tendo reunido um grupo invejável, contando com Simone de Oliveira, Vítor de Sousa, Florbela Queiróz, Eunice Muñoz, que leu a mensagem de Víctor Hugo Rascón-Banda, Rui de Carvalho, Adelaide João e Igrejas Caeiro que foi o primeiro director artístico daquele espaço.
Depois foi altura de lembrar o centenário de Samuel Beckett, com duas peças radiofónicas dirigidas por João Lagarto e Gonçalo Waddington. O palco do Maria Matos voltou à vida com “Rough for Rádio”, transmitidas em directo pela Antena 2. Pena é que quem ouviu as peças pela rádio não tenha visto o palco do Maria Matos novamente iluminado por um excelente desenho de luz e não tenha podido ver Carla Maciel, Valerie Bradell, Afonso Lagarto, João Lagarto e ainda o músico Fernando Mota com a sua panóplia de instrumentos.
O novo Teatro Maria Matos e o seu Director Artístico prometem uma programação com alguns momentos interessantes (veja-se o projecto de Clara Andermatt, o concerto de Victoria Abril que canta Chico Buarque, Caetano Veloso, Jobim e Vinicius de Moraes ou a peça “Laramie”, de Moisés Kaufman, encenada pelo próprio Diogo Infante com Adriano Luz, Fernando Luís, Filipe Duarte, Flávia Gusmão, Isabel Abreu, Nuno Gil, Paula Fonseca, Pedro Laginha e Teresa Madruga), bem como o desenvolvimento de projectos ligados à jovem criação, realizando acções de formação dirigidas a público infantil e sénior, criando um elo de ligação com a sociedade civil e recuperando o "Prémio Maria Matos" na área da nova dramaturgia portuguesa.
Ah, é verdade, as casas de banho estão lindas e os móveis do bar são fantásticos!

No comments: